Queria que você me olhasse daquela forma que só você é capaz, me desvendando sem necessidade de explicações. Porque nós somos assim, não acha?! Uma sintonia inacreditável e invejável.
É, invejável! Já parou para pensar em quantas pessoas queriam ser como nós? Que sabem o que outro está sentindo sem ter que falar nada, cuja energia paira sobre nossos corpos como uma carícia do vento vindo do mar, como a onda que revolve a areia da praia, numa carícia sem fim - ás vezes delicada e às vezes feroz como uma ressaca, batendo, soprando, esburacando a fina camada de areia, mas que depois de tanta zanga, se acalma, se recompõe e volta às carícias, suaves, ternas, como o vento que balança uma flor levando seu perfume pelo ar.
E se somos assim, feitos um para o outro, me explica por que não vejo mais seu sorriso, por que não sinto mais seu perfume, nem seu calor ou seu olhar sobre meu corpo?
Como a areia que cai de uma ampulheta, nosso tempo se foi? E se burlássemos o tempo e virássemos a ampulheta a fim de termos um pouco mais? Tempo para relembrar o frisson que nosso toque provoca, para sentir o hálito morno do perdão. Peço perdão por te amar tanto, por querer te ter do meu lado a todo momento, por precisar de você assim como preciso da água que hidrata meu corpo. Gostaria apenas que você estendesse sua mão e me tirasse dessa escuridão que se abateu sobre mim, como uma camada grossa e pegajosa que me impede de sorrir, pois só você é capaz disso.
imagem: www.galeriaaberta.com
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