Amizade


Tive uma amiga de infância, aquele tipo de amiga que não se largam nem por um instante, éramos assim. Íamos para a escola juntas, brincávamos juntas, compartilhávamos nossos brinquedos, éramos unha e carne.
Só tenho boas lembranças dessa fase de minha vida, minha família tinha menos recursos financeiros que a dela, então muitas coisas que fiz e presenciei foi graças à ela.

As poucas vezes que fui à praia, foi com a família dela. Me lembro como se fosse hoje, ela ia e ficava um mês inteirinho na praia e eu sabia que na última semana eu iria, o pai dela chegava na sexta-feira, após o trabalho, me chamava e me dizia: -Quer ir à praia comigo amanhã? Então esteja no portão amanhã às seis horas-. E eu, já estava com a minha mala arrumada.
Crescemos e nos tornamos adolescentes, então eles se mudaram, continuaram no mesmo bairro, mas em um local melhor, mais centralizado. Eu então ia visitá-la nos finais de semana, dormia lá. Ela por sua vez, fez novas amizades, eu tentei mas essas nova amigas eram muito diferente, agiam de forma diferente, eram mais velhas e já tinham outra visão do mundo, me senti deslocada, meio deixada de lado e me afastei. Nossa amizade esfriou, nos víamos de vez em quando e nos tornamos velhas conhecidas.
Os anos se passaram, ela se casou e foi morar em sua antiga casa, mas a situação já era outra, ela estava casada e eu noiva, planejando o meu casamento, que ocorreu uns dois anos depois. Mudei-me para meu apartamento, tive minha primeira filha e alguns anos depois ela teve uma filha linda, olhos azuis, uma princesinha. Nos falávamos por telefone.
Uma bela noite sonhei com ela, desesperada me dizendo que precisava muito falar comigo, em prantos, acordei assustada e pensei em ligar para ela pela manhã. Mas o dia se passou e não liguei, a semana passou e não liguei. Novamente sonhei com ela, o mesmo enredo e aquilo realmente me deixou preocupada, mas não liguei, tive vergonha de dizer que minha preocupação vinha de um sonho, simplesmente ridículo.
As semanas passaram e eu estava na casa de minha mãe conversando, matando a saudade, então perguntei sobre ela afinal fazia um tempão que não a via. Então minha mãe me disse que ela havia se separado e que sua vida estava de cabeça para baixo. Ela estava passando por um terrível momento, voltara a morar na casa de seus pais, o marido estava tentando levar sua filha, resumindo, um caos total.
Lembrei-me de meus sonhos, meu Deus, será que falhei? Vou ligar para ela, disse à minha mãe, que me pediu para não ligar pois a situação era muito delicada, todos estavam tentando protege-la e que talvez minha ligação não fosse bem aceita. Aceitei seu conselho e aguardei.
Chegou o aniversário de minha irmã e fui comprar uma sandália para presenteá-la e quando entro na loja, lá está ela, - Meu Deus! O que aconteceu com você? – pensei, dei-lhe um abraço, conversamos um pouco e ela se foi. Parecia que vinte anos haviam se passado, estava muito magra, no rosto amargura, tristeza, desespero...não sei ao certo, só sei que me senti muito mal vendo como ela estava.
Passaram-se alguns anos, ficava sabendo como ela estava através de minha mãe e minha cunhada, soube que ia se casar novamente, que sua filha estava cada vez mais bonita e torcia por uma oportunidade de revê-la.
Mês passado, durante uma festa a reencontrei, contei os dias, as horas, pois sabia que ela estaria presente, gosto muito dos pais dela e sei que o sentimento é recíproco para com meus pais e que ela compareceria , afinal de contas eram as Bodas de Ouros de meu queridos pais.
Estávamos recepcionando os convidados, e quando olho na recepção, vi algumas pessoas entrando e não os reconheci, é claro, a festa é de meus pais e não sou obrigada a conhecer todos seus amigos.
Comecei a reparar ao me dirigir até eles, puxando pela memória, se eu os conhecia, pois meus pais chegariam depois para a cerimônia. Havia um casal, uma menina linda de olhos azuis, a moça tinha cabelos longos, pele bonita, um sorriso no rosto a me olhar, a reconheci imediatamente, retribuí o sorriso e me aproximei, ela então me abriu os braços e em nosso abraço soube que agora ela está bem, seu rosto me mostrou isso, seu sorriso, seus olhos, seu jeito de falar, a troca de olhares entre ela e seu novo marido tirou um enorme peso de minhas costas, por simplesmente não ter agido e não ter ido dar uma força, um ombro amigo, mostrado que me importava e que ela poderia contar comigo.
Resolvi escrever esse texto hoje pois é seu aniversário e apesar de tantos anos longe nunca me esqueci dessa data, sempre lhe desejei o melhor e hoje minha amiga lhe desejo muuuuuuitas felicidades, que Deus ilumine sua vida pois você merece e que perdoe essa sua velha amiga que é falha mas te ama muito.. também para dizer que aprendi que devo seguir meu coração, sempre, pois naquele momento ele me dizia para correr em seu auxílio, mesmo se não aceitasses, mas o fiz calar-se e que isso nunca mais acontecerá.
Na minha casa chamada coração, existe um cômodo todinho seu, sempre.
PARABÉNS!!!

2 comentários:

Edna Federico disse...

Que lindo, Margarete!!!
Que bom que ela no final ficou bem.
Sabe, eu nunca desprezo um sonho...sempre que sonho com alguma amiga, ligo no dia seguinte, riso.
Beijo

Margarete Bretone disse...

É Edna, pode ter certeza que aprendi a lição. Tenho uma amiga que me diz que meu lado bruxa às vezes dá medo...
Bruxa do bem, é claro.