Luta


Ela estava agachada, o joelho esquerdo tocando o chão de terra, assim como a mão direita, os cabelos longos formando uma cortina negra sobre seu rosto, respiração acelerada. Olhou para o alto, pingos espessos, negros como sua roupa e seu estado de espírito, começaram a cair sobre seu rosto, como um lamento vindo dos céus. Ao seu redor, gritos de horror, medo e bravura daqueles que ainda lutavam. Ecoavam em sua memória os muitos lamentos que ouvira até então, daqueles que conhecera, que perdera e viria a perder. A visão de um futuro negro pairava sobre ela, como uma aura sugando toda sua vontade. O cansaço que ela sentia não era físico, há muito não mais sentia seu corpo reclamar, mas em sua alma marcada pela perda ao longo do tempo de sua existência. Virou-se e observou o horizonte distante, que começava a anunciar o amanhecer de um novo dia, ponderou a possibilidade de finalmente deixar tudo para trás e esquecer os gritos, as perdas, os incessantes lamentos das pessoas que contavam com ela. Viu no horizonte a possibilidade de um recomeço, livre da dor que carregava dentro do coração, ah como seria reconfortante se livrar de todo um passado de infortúnios. Deu um pequeno passo, fechou os olhos, abriu os braços e deixou-se sentir os pingos chuva lavar-lhe o rosto, o corpo e o coração ferido. E com um breve suspiro jogou-se para trás, num mergulho escuro para o fundo do abismo onde a luta pela vida continuava. As forças? Encontraria dentro de si, trancada a sete chaves no amago de seu ser e daqueles que confiavam nela.

Nenhum comentário: