Chica

A sensação de te ter nas mãos é indescritível e apesar de não poder te tocar diretamente, o contentamento que se espalha em meu corpo é como uma brisa morna em um dia de inverno, um sonho recortado. O único toque de meus dedos fazem tudo se tornar possível e ao alcance dos olhos, dos lábios, da língua e dos dentes. O acúmulo líquido na sua extremidade úmida, o prazer do olfato, o brilho se espalhando sobre sua superfície macia, sensação de puro êxtase. Rápidas ou lentas, as investidas contra ti me levam a extremos de pura glória. E quando você escorre, gelado, melado, se esparramando, se esvaindo, a única coisa que me vem à mente é: "bon".



Cassiopeia



Corre pelo meu rosto rio de pedras multicoloridas, que se multiplicam no canto do meu olho e se derramam sem pedir permissão. Com minhas mãos em conchas as amparo antes que caiam no precipício entre o queixo e meu inflamado peito, formando um lago multifacetado e em cada faceta brilhante vejo o reflexo de um momento. Uns brilham tão intensamente, que me cegam por um instante, outros sugam a luz, remetendo-me ao ponto mais escuro de minha finita memória. Inalo o ar úmido a minha volta, como névoa condensada de arrependimentos e as lanço no espaço escuro entre o céu e o nada e tudo fica inimaginavelmente belo, como uma constelação que acaba de surgir na negra teia de uma vida.


Imagem: desconheço a fonte

Deriva

Queria abrir um caderno qualquer, desses que se leva para escola, espiral, pautado e onde se escreve sem parar, fórmulas matemáticas, trechos históricos de nosso país, análises sintáticas, química, física, geografia....
desses de dez matérias....
arrancar uma folha, uma única folha....
dobrar, dobrar novamente, e mais e mais, até que ele se transforme em um barquinho de papel,
barquinho de papel pautado...
e nele navegar por aí, nas profundezas cerúlea de seus olhos, sentindo a plácida correnteza levar a pequena, leve e frágil nau para o seu íntimo, balançando ao ritmo ininterrupto, suave e embriagante de uma brisa.
Brisa, vento, ventania....
Soprando para longe, para perto, para dentro da escuridão pontilhada de memórias, como um céu estrelado de uma noite feliz...
e a nau flutuando, a brisa balançando meus cabelos, me beijando a face e me lançando para o alto,
sempre para o alto,
para o infinito profundo de sua existência e me confundindo....
Fundindo...
misturando tudo e me transformando em céu e lua, em sol e água, em frio e calor, em riso e choro, eu e você,
ancorados para sempre
na luz escura do hálito gélido de um infinito beijo.

Interminável hora

Os braços se tocam
Os corpos se entrelaçam
As mão se acariciam
As bocas se buscam, se encontram e provam o sabor do encontro
Invasão cedida, concedida e recíproca
Mãos alucinadas, procuram incessantemente
Calor
Aproximação
Entrega
Os corpos tentam se fundir em apenas um.
Apenas um
Um
Tentativa vã
Um
Bocas suplicam
Um
Corações descompassados
Um
Distância
Um
Desespero
Um
Dor
Um
Solitude
Um
Espera pela nova oportunidade de se tornar
Um