Deriva

Queria abrir um caderno qualquer, desses que se leva para escola, espiral, pautado e onde se escreve sem parar, fórmulas matemáticas, trechos históricos de nosso país, análises sintáticas, química, física, geografia....
desses de dez matérias....
arrancar uma folha, uma única folha....
dobrar, dobrar novamente, e mais e mais, até que ele se transforme em um barquinho de papel,
barquinho de papel pautado...
e nele navegar por aí, nas profundezas cerúlea de seus olhos, sentindo a plácida correnteza levar a pequena, leve e frágil nau para o seu íntimo, balançando ao ritmo ininterrupto, suave e embriagante de uma brisa.
Brisa, vento, ventania....
Soprando para longe, para perto, para dentro da escuridão pontilhada de memórias, como um céu estrelado de uma noite feliz...
e a nau flutuando, a brisa balançando meus cabelos, me beijando a face e me lançando para o alto,
sempre para o alto,
para o infinito profundo de sua existência e me confundindo....
Fundindo...
misturando tudo e me transformando em céu e lua, em sol e água, em frio e calor, em riso e choro, eu e você,
ancorados para sempre
na luz escura do hálito gélido de um infinito beijo.

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